quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Alunos do Ensino Médio não tem o hábito da Leitura

O Brasil é muito jovem em assuntos de leitura. Muitos jovens brasileiros não lêem.

Um comentário:

Hildebrando - UNB LINGUAGENS CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS disse...

A leitura no ensino médio

MARIA REHDER, maria.rehder@grupoestado.com.br

No dia 26 de agosto mais de 3,5 milhões de brasileiros passarão pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que avalia as competências e habilidades dos alunos da última etapa da educação básica, entre elas o domínio da língua portuguesa e o uso das linguagens matemática, artística e científica.

É neste contexto que a especialista em literatura infanto-juvenil Regina Zilberman - licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, (UFRGS) com doutorado em Romanística pela Universitat Heidelberg ( na Alemanha) e professora colaboradora do Instituto de Letras, da (UFRGS) - explica, em entrevista ao Jornal da Tarde, que a leitura é fundamental para os alunos de ensino médio e define qual o papel do professor e da escola na motivação ao hábito de ler em estudantes das escolas públicas. A leitura no ensino médio será um dos temas que a especialista vai abordar em palestra no seminário “Prazer em Ler de Promoção da Leitura - Nos Caminhos da Literatura”, evento promovido pelo Instituto C&A e pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), que será realizado nos dias 22, 23 e 24 de agosto, em São Paulo.

JT: Aproveitando o tema que será abordado em sua palestra, qual a importância do hábito da leitura para o aluno de ensino médio?

Regina: É durante o ensino médio que se forma a consciência de cidadania, isto é, de pertencer a uma sociedade, a um grupo e a um tempo. O acesso à leitura e ao conhecimento da literatura é um direito desse cidadão em formação, porque, como se observou antes, a linguagem é o principal mediador entre o homem e o mundo, sendo a escrita sua expressão mais completa. Privar o indivíduo dessa relação com o mundo da escrita e da leitura é formar um cidadão pela metade ou nem formá-lo. Eis porque a leitura é tão importante nessa faixa de ensino, geralmente tão ignorada pelo poder público e pelos encarregados de pensar o ensino, a escola e a educação brasileira.

É possível transformar em leitor um aluno que chega ao ensino médio sem o hábito de ler ?

É importante, primeiramente, que o professor, independentemente da disciplina que ensina, seja um leitor. A seguir, o professor precisa descobrir no aluno o leitor que ele é. Dificilmente um aluno que chega ao ensino médio desconhece inteiramente textos escritos, logo, ele traz alguma bagagem de leitura. Essa bagagem pode constituir o ponto de partida do professor.

Como você avalia o currículo do ensino médio? Os alunos estão aprendendo o que realmente deveriam aprender nesta etapa de ensino?

O currículo do ensino médio não é mau; nem me parece que bons ou maus currículos possam fazer muita diferença. Considerando, porém, as medidas aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), por meio do Enem, a aprendizagem tem deixado a desejar.

O que deveria ser aprendido pelo aluno no ensino médio?

Acredito que as escolas deveriam valorizar mais a cultura trazida pelo aluno, qualquer que ela seja; e, a partir daí, fazê-lo entender a diversidade cultural. O ensino médio nem sempre leva em conta a experiência de seu alunado, obrigando-o a absorver conhecimentos científicos e técnicos de que ele abrirá mão assim que abandonar esse nível de ensino.

Quais as características que levam o aluno a ir bem no Enem? Ser leitor faz a diferença?

Acredito que ser um leitor ajuda bastante, até porque seguidamente os alunos têm dificuldade de entender as questões por problemas de letramento. De todo modo, a avaliação dependerá do peso que o próprio Enem confere às disciplinas, portanto, para entender a relação proposta, seria necessário igualmente avaliar as próprias provas.

Levando em conta o péssimo desempenho dos alunos de escolas públicas nas avaliações de Educação (Pisa/Saeb/Prova Brasil), ainda é possível formar tais alunos em leitores ou até mesmo reverter tal situação em cinco anos?

Se houver vontade política, sim. Vontade política não significa apenas políticas governamentais, embora essas sejam igualmente necessárias. Mas uma mobilização da sociedade no sentido de pensar que a educação pode ser um fator essencial para a paz social. Entendeu-se sempre a educação como formação de mão-de-obra, crescimento econômico, progresso. Se assim fosse, o Brasil não apresentaria os índices negativos que apresenta nos campos da saúde, segurança pública, igualdade social. Portanto, não se trata apenas de valorizar a educação, o ensino, a escola, a formação e valorização de professores segundo índices econômicos ou efeitos na economia, mas também de pensar que, daqueles processos, pode resultar a pacificação da sociedade brasileira, a recuperação da idoneidade e a diminuição das diferenças entre classes, grupos, camadas e etnias. O aumento do número de leitores é o resultado adicional de tais sucessos.

Neste cenário, de poucos leitores em potencial, podemos dizer que o fim dos livros está próximo ?

É preciso, primeiramente, evitar a associação imediata entre livro e leitura. A leitura é um processo que acompanha a história da humanidade, desde que os seres humanos optaram pela escrita como intermediária entre os indivíduos e o mundo. Ao longo do tempo, os suportes se alteraram, tendo o livro aparecido num dado momento desse percurso. Ele pode ser substituído por outro tipo de suporte; ou, o que é mais provável, ele pode se oferecer aos leitores como uma alternativa para a leitura, que é o que vem acontecendo, que já constitui, por enquanto, a escolha mais prática e conveniente. Mas, como não é mais barata, talvez essa supremacia não dure muito. À escola pública - e ao ensino em geral - compete a promoção da leitura, não por meio de promessas de auto-ajuda, sempre falaciosa (mas que se encontra em vários discursos públicos), mas por intermédio da facilidade de acesso ao produto da escrita. É preciso que textos - em livros, revistas, jornais, computadores etc. - tornem-se familiares e façam parte de nosso cotidiano, para que não possamos pensar em prescindir deles.

Inscrições abertas para seminário

Estão abertas até 3 de agosto as inscrições para o Seminário Prazer em Ler de Promoção da Leitura - Nos Caminhos da Literatura”, evento voltado a educadores. Informações no site.